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Brasília, DF, Brazil
Cláudia Falluh Balduino Ferreira é doutora em teoria literária e professora de literatura francesa e magrebina de expressão francesa na Universidade de Brasília. Sua pesquisa sobre a literatura árabe comunga com as fontes do sagrado, da arte, da história e da fenomenologia em busca do sentido e do conhecimento do humano.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tahar Ben Jelloun

Cicatrizes do Atlas.Uma seleção brasileira de poemas marroquinos.


O título desta seleção de poemas de Tahar Ben Jelloun nasceu do espelhamento com um "recueil" de poemas do mesmo autor chamado Cicatrizes du Soleil. Assim como o título da coleção que ele integra - "Poetas do mundo" e que foi também sugestão minha ao editor, eles pretendem como títulos integrar universos irradiantes de possibilidades poéticas, de variedades temáticas da obra que o marroquino propõe. Integrar mundos e trazer a essência foi o objetivo, tal como as montanhas Atlas o fazem, unindo o absoluto místico e límpido que reina nos altiplanos da cordilheira mouresca aos vales intensos do Rif, a se estender até os confins de Marrakech, porta do deserto. Se há lugar terrenal para a poesia de Ben Jelloun, este lugar é a geografia mística do Marrocos profundo, onde o sagrado se imiscui quotidianamente no corpo poético dos homens e das mulheres, gerando a força - se força existe no etéreo que se faz humano...
Completando nove anos de sua publicação, As Cicatrizes do Atlas é daqueles trabalhos de tradução em que o tradutor se sente co-autor ao ver o sucesso de vendas e de procuras que ele representa no universo do público brasileiro que admira a poesia. Assim, eu inicio 2012 rendendo homenagem ao trabalho de sucesso aliado ao amor pela poesia e pelas finas ondas de lucidez no sentido literal que ela emana, assim como à força, não sem contar com um certo desespero que esta poesia representa, mas que fez e faz o delírio de sua tradutora e dos que a lêm. Selecionar e traduzir foi revisitar cicatrizes e constatar que estão realmente curadas por intermédio do poema.
Ao leitor que nos visita dedico esses dois belíssimos poemas desejando a você uma boa leitura e bons augúrios através dela! Cláudia Falluh.

Minha pátria é um rosto
um luar essencial
uma fonte de manancial vivo
É uma mão emocionada que guarda o crepúsculo
para pousar sobre os meus ombros
É uma voz de soluço e de riso
um murmúrio para os lábios que tremem
O único horizonte de minha pátria
é uma ternura contida
nos olhos negros
uma lágrima de luz sobre os cílios
É um corpo de tormentos, precioso
como um tufo de raízes
vizinho da terra quente
É um poema
gerado pela ausência
um país por nascer
à margem do tempo e do exílio
depois de um sono profundo.


2
Se o Marrocos fosse um rosto, seria uma luz, uma palavra do tempo,
deriva das estações, enigma do tempo.


Meu país é uma infância que atravessa as muralhas e os séculos,
guardada por um céu carregado de pássaros
de passagem, sinais do longínquo.


A terra, nunca emudecida, sabe esperar e dançar sob
os pés das mulheres
O sol lentamente a desnuda, enquanto mãos efêmeras
deslizam rumo a noite.


A terra a infância e a lua cheia se encantam com as turbulências, as febres e as cheias dos rios.


E a origem deixa a argila para ancorar nas areias, e as areias são o sul, fonte e pátria desta luz desenhando o rosto do meu país.


É também a dor, as lágrimas no silêncio, os olhos perdidos no céu, espera cheia de terra úmida.
Há estações onde toda claridade é cruel, chama que desce dos montes e das lendas, queimando os pés nus dos séculos onde ahistória semeia o esquecimento das chagas.


há dias em que a História fere a despeito dos corpos de amaro orgulho.


Assim é meu corpo: sombra tresloucada num jardim de ilusões.




Um vídeo precioso sobre o Marrocos. Aproveite esta maravilhosa oportunidade de conhecer o país, suas tradições e sua arte!
http://www.youtube.com/watch?v=3thabpKQC9A
Traduções de Cláudia Falluh.