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Brasília, DF, Brazil
Cláudia Falluh Balduino Ferreira é doutora em teoria literária e professora de literatura francesa e magrebina de expressão francesa na Universidade de Brasília. Sua pesquisa sobre a literatura árabe comunga com as fontes do sagrado, da arte, da história e da fenomenologia em busca do sentido e do conhecimento do humano.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Uma Sherazade feminista: a marroquina Fatima Mernissi.

O Grupo de Estudos Literários Magrebinos quer saudar a socióloga e romancista marroquina Fatima Mernissi.



Se Sherazade de dentro de sua câmera real, contava a um rei curioso e tirânico as aventuras de personagens miríficos e distantes, que percorriam mundos, viviam amores e incríveis périplos pelo mundo da fantasia, Fátima Mernissi faz o contrário. Imersa no mundo real, em meio aos personagens da existência quotidiana, que vivem o banal e o trivial dos dias, ela narra, isso sim, o mundo interno e secreto dos palácios reais, suas alcovas e haréns, seus poéticos belvederes de solidão, a vida e a sina de mulheres recolhidas, e não raro esquecidas nos belos recantos isolados do luxo, onde o único consolo é a lembrança da juventude, onde era vívida a esperança de felicidade.
Assim nasceram livros como O harém e o ocidente
No Ocidente, o harém é tido como o lugar idéal do prazer e da luxúria, onde mulheres são ecolhidas para servir ao seu senhor, lugar onde circulam mulheres nuas e lascivas, odaliscas imortalizadas por Ingrès e Matisse, e todas as Sherazade, na versão hollywoodiana. No Oriente, ao contrário, o harém é um lugar de reclusão de mulheres reprimidas, que sonham em espandir seu talento e inteligência. É o lado oriental que Fatima Mernissi quer colocar sob os holofotes da verdade.

Este extrato de uma crônica de Henriette Sarraseca, (RFI, 2002.) nos situa mais profundamente no universo de Mernisse.

« Fatima Mernissi nous emmène avec elle, en compagnie d’un journaliste français, qui l’introduit dans son harem fictif de peintures et de lectures. Puis dans son harem à elle, auprès de Haroun al-Rashid le séduisant khalife, du révolutionnaire Ataturk, grâce à qui les écoles ont été ouvertes aux filles jusqu’au Maroc, permettant à la petite Fatima de quitter le harem d’enfance à Fès, d’étudier à Rabat puis aux États-Unis et de devenir professeur d’université. Fatima qui a l’intelligence, l’érudition et peut-être, derrière ses lourds bracelets en argent et son rouge à lèvres Chanel, la confiance en elle de Schéhérazade, qui a en tout cas comme elle la maîtrise de la parole : "La femme musulmane contemporaine lui ressemble : elle n’a pour arme contre la violence que ses mots." Autres fortes femmes musulmanes : Shirin, partie seule à cheval à la recherche du prince aimé - on est loin de la Belle au bois dormant ! -, ou Nour Jahan, reine qui parlait le persan et l’arabe, pratiquait des arts raffinés et était « une remarquable tireuse de tigres ». Ou encore Al-Hurra, dont il ne reste aucune trace dans l’histoire officielle du Maroc, qui a pourtant exercé le pouvoir pendant trente ans (1510-1542) et fréquenté des pirates comme Barberousse. En un temps où les sultans recherchaient des esclaves érudites, redoutables joueuses d’échecs, les Européens ridiculisaient les femmes savantes. Et la question peut se poser : plus que dans l’imaginaire occidental, les femmes seraient-elles vues comme des "égales" dans l’imaginaire arabe ? »

 ou Sonhos de Transgressão.

Socióloga e feminista de renome, Fatima Mernissi é uma das mais imponentes e relevantes vozes da literatura e da sociologia marroquina se destaca por ser uma das grandes defensoras da mulher marroquina e árabe.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Mohamed Choukri, ou um marroquino literalmente infernal.




A criança nascida no Rif, durante uma grande fome que assolava a região, em uma família pobre e numerosa, cujo pai criminoso e violento a submete à humilhação e à desonra os filhos e a mãe, se revolta e sofre. A criança foge aos 11 anos de idade para Tanger, abandonando o pai tirânico e assassino. Em Tanger vive em meio a violência das ruas, aos traficantes e prostitutas, ele próprio prostituído, sem lar nem família, sem eira nem beira, vagando na pobreza, contrabandista de ocasião e analfabeto até os 20 anos de idade. Porém, um encontro mudará sua sorte definitivamente, clareando a estrela obscura sob a qual nascera.
Não, não é o resumo de um romance: é a própria vida de Mohamed Choukri (1935-2003). Vida sofrida e aprofundada nos confins da marginalidade, ela própria condutora à indignidade e à vilania.
Um salto se dá aos 20 anos porém, quando aprende a ler e a escrever, tenta os estudos e começa a escrever suas memórias em árabe dialetal com uma franqueza absoluta que irá chocar por anos a fio os leitores menos avisados. Assim nasceu o romance Le pain nu.  

Sexo, drogas e Reggada.

Elevado ao sucesso internacional através da tradução de Paul Bowles, este romance autobiográfico será banido do Marrocos em 1982, e de outros países árabes por ser considerado escandalosamente imoral. Nele Choukri escreve com crueza e precisão sobre o sexo,  drogas, prostituição, copulação com mulheres encontradas ao acaso, homosexualidade e mais. Só em 2000 a censura ao livro cai e ele retorna ao Marrocos. Mohamed Choukri dessacraliza pai e sociedade em suas obras onde a pobreza é vivida como uma degradação, uma corrupção, um castigo. Diferentemente da obra do egipcio Taha Hussein, na trilogia Os dias, em que a pobreza é vivida como uma condição honrada e submissa aos designios de Deus, Mohamed Choukri explode sem pestanejar tabus, tradições e hipocrisias.
As obras principais de Choukri são, Le pain nu, traduzido para o português, Les temps de l'erreur, La tente, Jean Genet et Tenessee Williams à Tanger, Jean Genet à Tanger, Jean Genet, suite et fin, Paul Bowles, le reclus de Tanger, Zoco Chico , Visages, Le fou des roses.
Fato interessante é a obra começar com a crueza de Le pain nu e terminar com a suavidade da paixão pelas rosas, como se a trajetória da vida fosse uma acensão ao paraíso e ao misticismo que as rosas representam e de quem foram inspiradoras. Ao leitor buscar saber se é isso mesmo...


E para suavizar o tema, um pouco de música: o sírio Abed Azrie canta os célebres versos do místico Ibn Arabe, O amor é minha religião: http://www.youtube.com/watch?v=SLiluJYLlYM . Suavidade... suavidade... é o que precisamos na vida...

domingo, 18 de março de 2012

Extra! Extra! Artigo inédito de Albert Camus!


 Um artigo inédito de Albert Camus acaba de ser publicado pelo jornal "Le Monde" em sua edição eletrônica de 18 de março. O artigo teria sido encontrado por uma correspondente do jornal nos Archives nationales d'outre-mer, da cidade de Aix-en-Provence. Segundo o jornal o artigo deveria ter sido publicado em 25 de novembro de 1939 (Camus teria na época 26 anos!) no "Le Soir Republicain" um jornal de Alger que foi interditado pelas autoridades coloniais em 1940.  "Le Monde" esclarece todavia que o artigo não foi assinado, mas "o texto foi autentificado". Liberte-algérie.com propõe aos leitores este texto de quase 73 anos mas que é de uma pungente atualidade. Nele são colocadas as questões sobre a liberdade de impensa, o papel de um "jornalista livre", e sobretudo a desinformação já existente naquele tempo, e que subsiste ainda... 


Nosso blog tem a 'euforia honrosa' de disponibilizar aos nossos leitores o texto integral deste artigo, uma verdadeira jóia, uma preciosidade, uma visita do passado ao presente de nossas lutas, de nossas visões! Este texto do jovem Camus nos remete ao estágio do intelecto que se preparava para criar os textos de L'étranger, La peste, L'homme revolté, jóias literárias e filosóficas que embalaram o imaginário de tantas gerações que fizeram e fazem a fortuna crítica e o elogio refinado a este magnífico autor. Estamos muito honrados e felizes em publicar este texto. Boa leitura a todos! Cláudia Falluh Balduino.


Nos tenons à remercier l'Ambassade de l'Algérie au Brésil pour l'appui à cette recherche. http://www.argelia.org.br/


Le manifeste censuré de Camus »
"Il est difficile aujourd'hui d'évoquer la liberté de la presse sans être taxé d'extravagance, accusé d'être Mata-Hari, de se voir convaincre d'être le neveu de Staline.
Pourtant cette liberté parmi d'autres n'est qu'un des visages de la liberté tout court et l'on comprendra notre obstination à la défendre si l'on veut bien admettre qu'il n'y a point d'autre façon de gagner réellement la guerre.
Certes, toute liberté a ses limites. Encore faut-il qu'elles soient librement reconnues. Sur les obstacles qui sont apportés aujourd'hui à la liberté de pensée, nous avons d'ailleurs dit tout ce que nous avons pu dire et nous dirons encore, et à satiété, tout ce qu'il nous sera possible de dire. En particulier, nous ne nous étonnerons jamais assez, le principe de la censure une fois imposé, que la reproduction des textes publiés en France et visés par les censeurs métropolitains soit interdite au Soir républicain, par exemple. Le fait qu'à cet égard un journal dépend de l'humeur ou de la compétence d'un homme démontre mieux qu'autre chose le degré d'inconscience où nous sommes parvenus.
Un des bons préceptes d'une philosophie digne de ce nom est de ne jamais se répandre en lamentations inutiles en face d'un état de fait qui ne peut plus être évité. La question en France n'est plus aujourd'hui de savoir comment préserver les libertés de la presse. Elle est de chercher comment, en face de la suppression de ces libertés, un journaliste peut rester libre. Le problème n'intéresse plus la collectivité. Il concerne l'individu.
Et justement ce qu'il nous plairait de définir ici, ce sont les conditions et les moyens par lesquels, au sein même de la guerre et de ses servitudes, la liberté peut être, non seulement préservée, mais encore manifestée. Ces moyens sont au nombre de quatre : la lucidité, le refus, l'ironie et l'obstination. La lucidité suppose la résistance aux entraînements de la haine et au culte de la fatalité. Dans le monde de notre expérience, il est certain que tout peut être évité. La guerre elle-même, qui est un phénomène humain, peut être à tous les moments évitée ou arrêtée par des moyens humains. Il suffit de connaître l'histoire des dernières années de la politique européenne pour être certains que la guerre, quelle qu'elle soit, a des causes évidentes. Cette vue claire des choses exclut la haine aveugle et le désespoir qui laisse faire. Un journaliste libre, en 1939, ne désespère pas et lutte pour ce qu'il croit vrai comme si son action pouvait influer sur le cours des événements. Il ne publie rien qui puisse exciter à la haine ou provoquer le désespoir. Tout cela est en son pouvoir.
En face de la marée montante de la bêtise, il est nécessaire également d'opposer quelques refus. Toutes les contraintes du monde ne feront pas qu'un esprit un peu propre accepte d'être malhonnête. Or, et pour peu qu'on connaisse le mécanisme des informations, il est facile de s'assurer de l'authenticité d'une nouvelle. C'est à cela qu'un journaliste libre doit donner toute son attention. Car, s'il ne peut dire tout ce qu'il pense, il lui est possible de ne pas dire ce qu'il ne pense pas ou qu'il croit faux. Et c'est ainsi qu'un journal libre se mesure autant à ce qu'il dit qu'à ce qu'il ne dit pas. Cette liberté toute négative est, de loin, la plus importante de toutes, si l'on sait la maintenir. Car elle prépare l'avènement de la vraie liberté. En conséquence, un journal indépendant donne l'origine de ses informations, aide le public à les évaluer, répudie le bourrage de crâne, supprime les invectives, pallie par des commentaires l'uniformisation des informations et, en bref, sert la vérité dans la mesure humaine de ses forces. Cette mesure, si relative qu'elle soit, lui permet du moins de refuser ce qu'aucune force au monde ne pourrait lui faire accepter: servirle mensonge.
Nous en venons ainsi à l'ironie. On peut poser en principe qu'un esprit qui a le goût et les moyens d'imposer la contrainte est imperméable à l'ironie. On ne voit pas Hitler, pour ne prendre qu'un exemple parmi d'autres, utiliser l'ironie socratique. Il reste donc que l'ironie demeure une arme sans précédent contre les trop puissants. Elle complète le refus en ce sens qu'elle permet, non plus de rejeter ce qui est faux, mais de dire souvent ce qui est vrai. Un journaliste libre, en 1939, ne se fait pas trop d'illusions sur l'intelligence de ceux qui l'oppriment. Il est pessimiste en ce qui regarde l'homme. Une vérité énoncée sur un ton dogmatique est censurée neuf fois sur dix. La même vérité dite plaisamment ne l'est que cinq fois sur dix. Cette disposition figure assez exactement les possibilités de l'intelligence humaine. Elle explique également que des journaux français comme Le Merle ou Le Canard enchaîné puissent publier régulièrement les courageux articles que l'on sait. Un journaliste libre, en 1939, est donc nécessairement ironique, encore que ce soit souvent à son corps défendant. Mais la vérité et la liberté sont des maîtresses exigeantes puisqu'elles ont peu d'amants.
Cette attitude d'esprit brièvement définie, il est évident qu'elle ne saurait se soutenir efficacement sans un minimum d'obstination. Bien des obstacles sont mis à la liberté d'expression. Ce ne sont pas les plus sévères qui peuvent décourager un esprit. Car les menaces, les suspensions, les poursuites obtiennent généralement en France l'effet contraire à celui qu'on se propose. Mais il faut convenir qu'il est des obstacles décourageants : la constance dans la sottise, la veulerie organisée, l'inintelligence agressive, et nous en passons. Là est le grand obstacle dont il faut triompher. L'obstination est ici vertu cardinale. Par un paradoxe curieux mais évident, elle se met alors au service de l'objectivité et de la tolérance.
Voici donc un ensemble de règles pour préserver la liberté jusqu'au sein de la servitude. Et après ?, dira-t-on. Après ? Ne soyons pas trop pressés. Si seulement chaque Français voulait bien maintenir dans sa sphère tout ce qu'il croit vrai et juste, s'il voulait aider pour sa faible part au maintien de la liberté, résister à l'abandon et faire connaître sa volonté, alors et alors seulement cette guerre serait gagnée, au sens profond du mot.
Oui, c'est souvent à son corps défendant qu'un esprit libre de ce siècle fait sentir son ironie. Que trouver de plaisant dans ce monde enflammé ? Mais la vertu de l'homme est de se maintenir en face de tout ce qui le nie. Personne ne veut recommencer dans vingt-cinq ans la double expérience de 1914 et de 1939. Il faut donc essayer une méthode encore toute nouvelle qui serait la justice et la générosité. Mais celles-ci ne s'expriment que dans des coeurs déjà libres et dans les esprits encore clairvoyants. Former ces coeurs et ces esprits, les réveiller plutôt, c'est la tâche à la fois modeste et ambitieuse qui revient à l'homme indépendant. Il faut s'y tenir sans voir plus avant. L'histoire tiendra ou ne tiendra pas compte de ces efforts. Mais ils auront été faits".

sábado, 17 de março de 2012

50 anos sem Mouloud Feraoun.


Neste ano do cinquentenário da Independência da Argélia, (5 de julho de 1962) o GP Estudos Literários Magrebinos Francófonos acha justíssimo e apropriado homenagear um dos grandes autores argelinos e de certa forma um mártir da guerra da Argélia, MOULOUD FERAOUN.
Se por um lado Feraoun é reconhecido internacionalmente pela sua obra, por outro lado, é mister reconhecê-lo como uma extraordinária testemunha de seu tempo e um sutil analista da sociedade argelina em plena mutação.
Nascido em 8 de março de 1913, Feraoun este ano completaria 99 anos, mas o que se celebra reverencialmente é o cinquentenário de seu falecimento.
De origem humilíssima, Feraoun vem de uma família de camponeses. Apoiado na juventude por bolsas de estudo ele consegue terminar sua formação. Seu pai segue para a França em 1910 para trabalhar nas minas de Lens, retornando à Argélia em 1927 após um acidente em Aubervilliers. Esta história está também narrada esplendidamente no romance "Le fils du pauvre", primeiro livro de Feraoun (1939) publicado apenas em 1950 pela Seuil, com 70 páginas a menos,  referentes à adolescência do autor em Bouzaréa.
Feraoun nos toca pela sua pacífica presença, pela suavidade de suas palavras e atitudes reflexivas que trazem a tona um humanista fino, homem que trancende o "... lourd destin pour le bout d'homme chéfif que j'étais" (Le fils du pauvre) pela sua capacidade criativa e sua densa atitude diante da vida.

Fantásticos testemunhos sobre o autor estão nos vídeos a seguir :
http://www.youtube.com/watch?v=gxnmD600odk&feature=related

domingo, 11 de março de 2012

Rajae Benchemsi


A escritora do momento, a marroquina Rajae Benchemsi.



Natural de Meknès, Rajae Benchemsi viveu dez anos na França onde concluiu um doutorado em literatura sobre Maurice Blanchot. De volta ao Marrocos ela lecionou na Escola Normal de Marrakech, cidade onde vive até hoje e se consagra à crítica de arte, à ficção e à poesia.
                         
Rajae Benchemsi trabalha também na televisão marroquina, onde ela apresenta uma emissão literária semanal.
A obra de Benchemsi coloca em evidência as contradições e as complementaridades da sociedade marroquina de hoje. Para tal ela lança mão de personagens opostos tanto pelo passado como pela cultura, confrontados às origens (Marrakech, lumière d’exil) ou às dores da história do país (La Controverse des temps).


O que significa francofonia para Rajae? Je ne me reconnais pas du tout dans ce terme. La francophonie est un concept politique qui est, je pense, le résultat d’une grosse défaillance politique de la gestion de la langue française. Les vrais enjeux ne sont pas dans le fait d’utiliser cette langue, mais plutôt dans celui d’arriver à dire avec force qui l’on est.
Acompanhe o restante desta entrevista com a autora de Fracture du Désir emhttp://www.evene.fr/livres/actualite/interview-rajae-benchemsi-controverse-temps-285.php

Résumé du livre.
Qu'elle dise l'enchevêtrement des corps dans l'enfer de l'amour à vendre, qu'elle saisisse dans son incongruité la présence d'une tête solitaire chez le magicien de la foire des Zaërs, qu'elle évoque la séduction d'une voix entendue au hasard d'une promenade dans les rues de Paris, Rajae Benchemsi parvient à donner une matérialité au vertige des sens. Irréductibles à leur seul sujet, ces six récits, dont l'épicentre est la chair, en majesté ou en putréfaction, disent la réalité de la prostitution, de la solitude, du meurtre, du deuil ou de l'absence. Leur violence, leur efficacité narrative, leur profondeur de champ tiennent à une langue poétique et âpre à la fois, oscillant sur une ligne de crête entre deux imaginaires. Car si l'on trouve ici une inspiration proche de George Bataille, il y a dans le pouvoir d'envoûtement que revêtent ces textes comme un obsédant souvenir des contes des Mille et Une Nuits.


 




quinta-feira, 8 de março de 2012

Homenagem às autoras magrebinas no 8 de março.

O G. P. Literatura Magrebina Francófona 
 neste 8 de março,
Dia Internacional da Mulher,
saúda todas as autoras magrebinas de expressão francesa do presente e do passado, e todas as mulheres que fazem da literatura um universo renovado, e do universo um livro fascinante!




E marcando este dia especial para todas nós, segue uma homenagem do grupo às mulheres que têm um sonho, um modelo a seguir, um ideal, um recomeço, uma forte visão no horizonte para onde marcham decididamente. A todas nossos votos de coragem, esperança, ânimo e sabedoria diante da vida e tudo o que ela nos trás e nos trouxe, de todas as formas, até hoje... Felicidades.

 
            
          





                                                                      
       








































































































































































































sábado, 3 de março de 2012

Yasmina Khadra


O Grupo de Estudos Literatura Magrebina Francófona quer saudar o autor do momento, o argelino YASMINA KHADRA.



Se a surpresa habita a literatura, é nos romances de Yasmina Khadra (pronuncia-se Radra) que ela se mune de emoção, poesia, beleza pungente e dor desmesurada para tomar de assalto os leitores e deixá-los imersos no espanto próprio do alumbramento diante do inaudito.

Os  três romances de Yasmina Khadra  publicados no Brasil pela Sá Editora apartam-se radicalmente das vias seguidas pelos modernos autores magrebinos de expressão francesa. Se estes se nutrem do incomensurável manancial que o passado colonial legou, ainda que o explorem de várias formas em um caleidoscópico mosaico concedendo vida ao drama ancestral, Yasmine Khadra imiscui-se no mundo árabe profundo, o machreck, indo situar suas tramas em países do Golfo como o Iraque (As sirenas de Bagdá), no longínquo Afganistão (As andorinhas de Cabul) e em Israel e na Palestina (O atentado).  Yasmina explora a a fundo a doença mortífera que toma conta desses países, -  o integrismo. E para fazê-lo escolhe as estruturas frágeis das famílias, dos casais, das mulheres. É no seio destas células delicadas que tendem a se perder e se volatizar com a brutalidade das cicunstâncias em que um ou vários de seus membros se perde (ou se encontra, o leitor dirá...) em contato com o terror... Contato que se dá de formas variadas, mas a micro estrutura das famílias que se deterioram equivale à macro estrutura o mal que assola os países em questão.
Yasmina Khadra, (nome que em árabe - ياسمينة خضراء - significa jasmim verde) é o pseudônimo de  Mohamed Moulessehoul. E o pseudônimo poético adequa-se profundamente à poesia que consta em sua narrativa, como mostra o trecho a seguir de O Atentado, na tradução de Ana Montoia:


"Desço um pequeno caminho que leva até a praia, ocupo uma pedra e me concentro na brecha infinitesimal que vem arranhar as trevas. A brisa forrageia debaixo da minha camisa, desmancha meu cabelo. Abraço os joelhos, pouso suavemento o queixo por cima e não tiro os olhos do traço opalino que abre delicadamente as vestes do horizonte..."


Todavia, a suavidade do pseudônimo se anula quando as cenas de alta violência e  horror são destacadas, como no caso da lapidação de uma mulher em Cabul regida pelos Talibãs, espetáculo cru, que se passa em um estádio, assistido por uma multidão louca por sangue. Segue pequeno trecho da tradução de Regina Salgado Campos.

Mohsen apanha três pedras e as lança no alvo. As duas primeiras se perdem por causa do frenesi em volta, mas, na terceira tentativa, ele atinge a vítima em cheio na cabeça e vê, com uma insondável jubilação uma mancha vermelha surgir no lugar em que a tocou. No fim de um minuto, ensanguentada e alquebrada, a condenada desaba e não se mexe mais. Sua imobilidade eletriza ainda mais os apedrejadores que, com os olhos transtornados e a boca molhada, redobram a ferocidade, como se procurassem ressucitá-la para prolongar-lhe o suplício. Na histeria coletiva, persuadidos de que exorcizam seus demônios por meio dos da súcuba, nenhum deles percebe que o corpo atingido por todos os lados não reage mais às agressões, que a mulher imolada jaz sem vida já meio enterrada, como um monte de atrocidades jogado aos abutres".

Yasmina Khadra explora o verbo poético de forma intensa, ainda que não esperemos encontrar poesia em meio à brutalidade. Através de sua narrativa compartilhamos do real transcendido em alternâncias  entre o belo e o hediondo, entre o amor e seus párias, acompanhado do mimetismo que alça os personagens ao estatuto de estelas ardentes que marcam a divisa entre a literatura e o jornalismo.

Nossa saudação admirativa a Yasmina Khadra e que um olhar de canto de olho acaricie nossos leitores: que o encontro  entre ambos seja regido pela modernidade dos nossos tempos ferozes e a antiguidade do que há de mais harmônico no homem. Cada um que descubra o que seja. 

Siga este vídeo de entrevistas com o autor http://br.video.search.yahoo.com/search/video?p=yasmina+khadra&fr=ush-mail&fr2=piv-web