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Brasília, DF, Brazil
Cláudia Falluh Balduino Ferreira é doutora em teoria literária e professora de literatura francesa e magrebina de expressão francesa na Universidade de Brasília. Sua pesquisa sobre a literatura árabe comunga com as fontes do sagrado, da arte, da história e da fenomenologia em busca do sentido e do conhecimento do humano.

domingo, 1 de abril de 2012

Jean Amrouche: uma estrela secreta.



"J'ai respiré la chair du monde et le monde dansait en moi, j'étais à l'unisson de la sève, à l'unisson des eaux courantes, de la respiration de la mer. J'étais plein du rêve des plantes, des collines ensommeillées comme des femmes après l'amour."

Há 50 anos, em 16 de abril de 1962, a Argélia e o mundo das letras perdia uma de suas maiores vozes, o escritor, poeta, jornalista, ensaista Jean Amrouche.
Podemos hoje,  como curiosos e admiradores que somos desta literatura argelina exuberante e riquíssima, encontrar Jean Amrouche através da manifestação de sua obra múltipla, ou em testemunhos e entrevistas circunstanciais de seus numerosos amigos (François Mauriac, André Gide, Kateb Yacine, Ferhat Abbas, Jules Roy, Marcel Reguy...).
Podemos encontrá-lo em seu Journal, testemunho capital, caudaloso de impressões sobre seu tempo e sua vida.
Podemos encontrar Jean Amrouche sobretudo em sua impressionante tradução dos Chants berbères de Kabylie, que prolonga a reflexão sobre o patrimônio cultural argelino.


 Poesia de tradição oral, ele a recebe de sua mãe e a verte para o francês com a ajuda da irmã Taos Amrouche, estes cantos profundos e ancestrais, cuja riqueza certamente se perderia se não fosse o trabalho da família Amrouche em trabalhá-lo e restituí-lo para a fruição da modernidade, estes cantos antiquíssimos . Segue para o leitor um desses poemas, sobre o sentido etimológico profundo da palavra Simpatia: sofrer junto....

Chant de l'exil.

J'ai dit ma peine à qui n'a pas souffert
et il s'est ri de moi. J'ai dit ma peine à qui a souffert,
Et il s'est penché vers moi.
Ses larmes ont coulé avant mes larmes.
Il avait le coeur blessé.
J'ai versé tand de pleurs et vous n'avez pas pleuré...
J'ai compri: je vous suis étranger.
J'ai plongé dans la mer à la nage:
Le vent du nord s'avançait vers moi,
Le brouillart engoutit les rochers...
O, si vous avez des yeux,
que vos yeux s'emplissent de larmes!

Mas é na poesia mística, sobretudo em Cendres e Etoile secrète, poemas da ruptura, da solidão e do exílio, que o encontraremos em sua plenitude, na força luminosa de sua inteligência, sincero e dorido,  lírico, recôndito e místico, este homem que dizia em L'éternel Jugurtha que "tout magrehébin est un poète de naissance et toujours predestiné à l'appel mystique". Ei-lo transcendente, vivenciando a experiência do sensível, revivendo as ressonâncias místicas de Milosz e Ungaretti, retraçando vivências que passam pelo mundo sensível dos elementos: água, terra, fogo, ar... Atravessando a carne e o sangue que, "devenus cendres s'éparpillent à leur tour dans les clartés stellaires et solaires pour participer au renouvellement de la parole, au rythme cosmique, entre Dieu et l'homme."

Tout meurt.
Tout se dissout
Pour que naisse la Vie.
Toute image de nous est image de mort.
Mait aussi toute mort est un gage de Vie.

Ombres flottantes sur clarté diffuse
Faibles lueurs sur la nuit épaisse
Par les regards trop stricts des hommes
Qui cherchent à resoudre l'énigme de leur coeur
Salve nocturne de l'âme
Où les faisceaux du soleil s'épuisent
Replié sur moi-même je cherche
Le rayon promordial
Comme une clef des songes".

Segem vídeos com o autor.

http://www.youtube.com/watch?v=kQEDjLXcdh8