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Brasília, DF, Brazil
Cláudia Falluh Balduino Ferreira é doutora em teoria literária e professora de literatura francesa e magrebina de expressão francesa na Universidade de Brasília. Sua pesquisa sobre a literatura árabe comunga com as fontes do sagrado, da arte, da história e da fenomenologia em busca do sentido e do conhecimento do humano.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

II Jornada Literatura e Espiritualidade, na UnB.



               Onde está o sagrado no mundo atual?
         Nestes duros tempos de decadência em que vivemos o sagrado é escândalo, por muitos ignorado, por outros tratado apenas no escuro do quarto, em períodos de crise vivencial, quando torna a alma aflita para Deus em busca de soluções. Isso quando alma há...Para outros Deus modernizou-se assim como Sua palavra, a tal ponto que dela se servem em edições revistas e ampliadas, que servem ao coração humano em suas infinitas chagas, ou como escusas ao ato, que de tão moderno se faz desconhecido, mas não para Deus.
            Seja como for, as relações tecidas entre o sagrado e a humanidade a cada vez mais parecem esconder-se, desaparecer, eu diria, diante da sofreguidão com que o homem recorre à violência, essência humana, matriz de males e temas, para resolver os intrincados e constantes, imperecíveis e eternos jogos do poder, pai do ego, primo irmão do desejo.
           Indefinível, o sagrado é sentido, qual corrente elétrica, muito mais em seus efeitos, nunca por sua exposição. Mas estará o homem moderno disposto a acolher suas manifestações na atualidade das horas? E nestas horas atrozes, quem responde pela busca sacra, quando somos tragados por tecnologias e avanços, razão em busca de luz, e luzes que se desfazem em trevas, trevas do espírito em versão numérica, tratado em inglórias repetições de erros bélicos, científicos,mordazes como químicas solventes e e nadificadoras? Quem colhe hoje do bem e da graça benfazeja do sagrado? 
          Enquanto pensamos, há quem recorra a fórmulas antigas para adequar a inquietação do mistério às confecções do espírito criado criador. Falo do homem e da literatura. Dentro desta díade leal e purificadora, desta composição antiga e eficaz o homem considera sua ligação e religa, estipula seus limites para transcendê-los através da palavra poética, do texto em suas urdiduras às vezes vorazes, às vezes tênues, em que a duplicidade da condição humana surge aliando-se e coordenando-se com as fontes sutis do sagrado, da religião, da espiritualidade em sua dimensão total, porque unidos estão os artefatos da arte com a inspiração superior.
                  Literatura e espiritualidade. Dia 27 de novembro na Universidade de Brasília, é uma chamada ao texto em sua prioridade sacra.



domingo, 9 de novembro de 2014

Tombeau d'Abdelwahab Meddeb

                                 
                       

                   "Quelqu'un, ô Héracle, m'as dit ton trèpas et m'a plongé dans les larmes."
                                                                                                      Calímaco de Sirène



Savant-mystique.
                                                                       Pour Abdelwahab.

Oh, nuit généreuse,
Laisse-moi être la servante,
De celui qui sert le Donateur.

Sous le ciel mystérieux du  plateau,
Une bibliothèque nous accueillera.
Je  guiderai sagement ce qalam de noblesse,
Entre les pages d’un livre occulté,
Pour qu’il  y trouve le texte profond,
Caché dans  l’eau pure d’un puit
Habité de djinns, anges et nymphes,
à le recevoir en fête,
à l’installer, commode.

Il  le feuillettera, délicat, ce livre,
jusqu’à ce que la page s’ouvre,
offrant sa soie
à la joie du serviteur.

Il va, judicieux, écrire,
Et, enivré, lire
et perfectionniste,  conjuguer,
et insatiable, décliner,
et  rigoureux, répéter,
et en transe relira vite ce texte-reine,

L’apprenant  par coeur,
Il pause, respire,
Et  ferme à demi les pages fatiguées,
Pour recommencer, sans regarder la face du livre,
Lentement le rouvrir,
Méthodiquement mouvementer le qalam,
Et ponctuer l’épilogue,
De l’encre pure d’une euphorie de minute,
Et du feu triste d’une lecture finie.

Oh, nuit généreuse,
Laisse-moi être la servante,

De celui qui sert le Donateur.

par Cláudia Falluh