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Brasília, DF, Brazil
Cláudia Falluh Balduino Ferreira é doutora em teoria literária e professora de literatura francesa e magrebina de expressão francesa na Universidade de Brasília. Sua pesquisa sobre a literatura árabe comunga com as fontes do sagrado, da arte, da história e da fenomenologia em busca do sentido e do conhecimento do humano.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Do deserto egípcio ao texto universal: itinerários de Edmond Jabès

   
    Ao longo de todos anos de mergulho nas literaturas do Magreb, sempre me aprouve pensar que, se grandes linhas cardeais saíssem do deserto egípcio e varassem mundo afora, elas seriam setas em cujas extremidades brotariam textos. E ao longo da seta, em sua longilínea concepção ávida de finitude, estaria um homem. Não um nômade, já que trago aqui os areais sáfaros, tampouco o anacoreta e sua comunhão muda e luminosa com Deus, muito menos o guia de caravanas - como aquelee que um dia recebeu mensagens angélicas, ou Reis Magos que conheciam a voz das estrelas. Não. Plainando na delicada linha da ternura das palavras estaria, isso sim, o poeta, o grande poeta.
     E o poeta que trouxe para fora do deserto as idéias que nele foram geradas, aquele que deixou para sempre os crepúsculos de brasa que morriam atrás de grandes pirâmides, abandonando o deserto para nele viver e escrever eternamente foi Edmond Jabès. 
    Caia, amado leitor, na armadilha das palavras! Caia, não se desvie! Caia para saber que em Jabès abandonar significa nunca mais abandonar... Morrer significa nascer, e nascer significa morrer assim como encontrar-se já é dizer adeus. 
     A leitura deste fabuloso poeta, que abandona o Egito e migra em sua seta cármica pelo ocidente equivale a aspirar profundamente o perfume da rosa dos ventos. 
    Perder-se no deserto é encontrar-se no virar das páginas de um livro de questões, é construir tijolo a tijolo uma morada, é percurso, é partilha, jamais sem supor um deserto no caminho; ao ler Jabès, o leitor pára e observa o portal, não hesita diante da hospitalidade trina de Yaël, Elya e Aely, considera as semelhanças, pesa o desapercebido, teme, mas aceita as subversões de um estrangeiro tendo sob o braço um livro de pequeno formato, talvez poesias para dias de chuva e de sol. No fundo ele sabe que o desejo de um começo traz sempre consigo a angústia de um fim único.
     Caia, amado leitor, nas armadilha da palavra de Edmond Jabès. Beba o perfume da rosa dos ventos...





Assista o vídeo da conferência apresentada na Universidade de Brasília pelo Prof. Dr. Eric Benoit, professor de literatura francesa na Universidade Michel de Montainge, Bordeaux 1, e diretor da revista Modernités. O evento foi produzido pelo professor e tradutor Eclair Antonio Almeida Filho, à direita no vídeo.