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Brasília, DF, Brazil
Cláudia Falluh Balduino Ferreira é doutora em teoria literária e professora de literatura francesa e magrebina de expressão francesa na Universidade de Brasília. Sua pesquisa sobre a literatura árabe comunga com as fontes do sagrado, da arte, da história e da fenomenologia em busca do sentido e do conhecimento do humano.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Meddeb



O tunisiano Abdelwahab Meddeb. Saberes iniciáticos para leitores mais que iniciados.

Conhecer a obra de Abdelwahab Meddeb pode ser um périplo surpreendente por labirínticos saberes. Mas há saída, desde que o leitor entre segurando o fio de Ariadne. Aí então ele descobrirá os caminhos da erudição que o sábio de Tunis oferece, guiando-nos com sua tênue lanterna e envolto em seu manto rústico. Assim vejo Abdelwahab Meddeb: o eremita. Mas se o simbolismo das cartas do tarot seduz, vou adiante e uno a imagem deste escritor tunisiano  - autor de A doença do islã, e Phantasia, uma ode caleidoscópica ao mundo da beleza, da sensualidade -, à imagem da carta tarótica que simboliza o Papa. Porque é da sensualidade evocada com requinte e vigor unida ao alto grau de sabedoria que brota o misticismo presente em Tombeau d'Ibn Arabi.   

Segue trecho deste livro. Somente para leitores iniciados. 

"Salut à toi le nostalgique, l'orphelin, l'ami enfoui dans la touffe de la douleur, retourne à la lumière sonore qui, de la source, jaillit, toi, le reclus, qui dédies ton jeûne, ta pénitence, ton exercice, tes saisons, maintenant tu quittes l'hermitage, tu sors de l'hivernage, ne recule pas au jour de la rencontre, ne conturne pas le lit à baldaquin, où tombent molles tes tentures, autel qui sent les entrailles, près du lac qui réfléchit le bleu du ciel, ton coeur est une lampe qui brûle, tu jettes à pleine main la braise, ta gorge rythme les pulsions de l'eau qui, hors la roche, surgit, et toi qui guide les dociles chamelles, baisse l'étendard près de la stèle, là-bas, au carrefour, halte aux plis du parcours, repose une heure et salue, avant d'aller vers les coupoles rouges, qui paraissent au loin, à l'horizon de la fiévre, salut à toi le nostalgique, l'horphelin, l'éploré, si l'on répond à son salut, que ton don soit de beauté, si l'on ne dit mot, continue ta route, traverse le fleuve, ne parle pas à la troupe, à la tribu, passe entre les tentes blanches, qui étalent leurs ombres sur les lévres alines, et jèle les amantes toutes, Judith et Aya, Hind ou Héra, demande-leur de te montrer le chemin, de l'éclatante blancheur qui scintille, entre les cimes."


                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  

                    

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tahar Ben Jelloun

Cicatrizes do Atlas.Uma seleção brasileira de poemas marroquinos.


O título desta seleção de poemas de Tahar Ben Jelloun nasceu do espelhamento com um "recueil" de poemas do mesmo autor chamado Cicatrizes du Soleil. Assim como o título da coleção que ele integra - "Poetas do mundo" e que foi também sugestão minha ao editor, eles pretendem como títulos integrar universos irradiantes de possibilidades poéticas, de variedades temáticas da obra que o marroquino propõe. Integrar mundos e trazer a essência foi o objetivo, tal como as montanhas Atlas o fazem, unindo o absoluto místico e límpido que reina nos altiplanos da cordilheira mouresca aos vales intensos do Rif, a se estender até os confins de Marrakech, porta do deserto. Se há lugar terrenal para a poesia de Ben Jelloun, este lugar é a geografia mística do Marrocos profundo, onde o sagrado se imiscui quotidianamente no corpo poético dos homens e das mulheres, gerando a força - se força existe no etéreo que se faz humano...
Completando nove anos de sua publicação, As Cicatrizes do Atlas é daqueles trabalhos de tradução em que o tradutor se sente co-autor ao ver o sucesso de vendas e de procuras que ele representa no universo do público brasileiro que admira a poesia. Assim, eu inicio 2012 rendendo homenagem ao trabalho de sucesso aliado ao amor pela poesia e pelas finas ondas de lucidez no sentido literal que ela emana, assim como à força, não sem contar com um certo desespero que esta poesia representa, mas que fez e faz o delírio de sua tradutora e dos que a lêm. Selecionar e traduzir foi revisitar cicatrizes e constatar que estão realmente curadas por intermédio do poema.
Ao leitor que nos visita dedico esses dois belíssimos poemas desejando a você uma boa leitura e bons augúrios através dela! Cláudia Falluh.

Minha pátria é um rosto
um luar essencial
uma fonte de manancial vivo
É uma mão emocionada que guarda o crepúsculo
para pousar sobre os meus ombros
É uma voz de soluço e de riso
um murmúrio para os lábios que tremem
O único horizonte de minha pátria
é uma ternura contida
nos olhos negros
uma lágrima de luz sobre os cílios
É um corpo de tormentos, precioso
como um tufo de raízes
vizinho da terra quente
É um poema
gerado pela ausência
um país por nascer
à margem do tempo e do exílio
depois de um sono profundo.


2
Se o Marrocos fosse um rosto, seria uma luz, uma palavra do tempo,
deriva das estações, enigma do tempo.


Meu país é uma infância que atravessa as muralhas e os séculos,
guardada por um céu carregado de pássaros
de passagem, sinais do longínquo.


A terra, nunca emudecida, sabe esperar e dançar sob
os pés das mulheres
O sol lentamente a desnuda, enquanto mãos efêmeras
deslizam rumo a noite.


A terra a infância e a lua cheia se encantam com as turbulências, as febres e as cheias dos rios.


E a origem deixa a argila para ancorar nas areias, e as areias são o sul, fonte e pátria desta luz desenhando o rosto do meu país.


É também a dor, as lágrimas no silêncio, os olhos perdidos no céu, espera cheia de terra úmida.
Há estações onde toda claridade é cruel, chama que desce dos montes e das lendas, queimando os pés nus dos séculos onde ahistória semeia o esquecimento das chagas.


há dias em que a História fere a despeito dos corpos de amaro orgulho.


Assim é meu corpo: sombra tresloucada num jardim de ilusões.




Um vídeo precioso sobre o Marrocos. Aproveite esta maravilhosa oportunidade de conhecer o país, suas tradições e sua arte!
http://www.youtube.com/watch?v=3thabpKQC9A
Traduções de Cláudia Falluh.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Malek Haddad

Alguma poesia para começar o ano. Eu sugiro o belíssimo Pour Jamila, de Malek Haddad, expressão esperançosa dos espíritos poéticos que ardem por liberdade.


Demain la pluie sera pour toi
Et les moissons pour toi
Et demain nous irons saluer l'Algérie
tu était par là-bas la caution des oiseaux

la pluie sera pour toi
Demain nous construirons le temple du passé
Demain le jour sera pour toi
Et quel leti pourra boire
l'enfant que tu auras

Cet enfant Jamila sera-t-il prince ou monument
N'aie crainte ô ma douceur
Il sera prince et monument


Demain la pluie sera pour toi
Dans Alger page blanche en lettres capitales
Je crierai Jamila
J'écrirai Jamila
Et puis s'il le fallait je saurai le talent!


je contemple ton nom il demande une rime
De l"automne au printemps c'est le temps des lilas
En arabe La belle a la taille du rime
Et par chez nous l'honneur s'appelle Jamila.

in: Écoute et je t'appelle, Maspero, 1961.


Acompanhe este excelente vídeo sobre o autor:
http://www.youtube.com/watch?v=btvs2vhufdM