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Brasília, DF, Brazil
Cláudia Falluh Balduino Ferreira é doutora em teoria literária e professora de literatura francesa e magrebina de expressão francesa na Universidade de Brasília. Sua pesquisa sobre a literatura árabe comunga com as fontes do sagrado, da arte, da história e da fenomenologia em busca do sentido e do conhecimento do humano.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A última estação: entrevistando o cineasta e ator libanês Mounir Maasri

Um Eldorado em desencanto: o filme A última estação.


Cláudia Falluh e Mounir Maasri em Byblos, Líbano, 2009.


A história da imigração árabe no Brasil é encantadora e comovente. Nela estão inseridas as lutas, esperanças, sucessos e tragédias de muitas gerações. Fascinados pela América, ou Amrik, como pronunciavam e desencantados com a força do império turco sobre as minorias cristãs, milhares de sírios e libaneses oprimidos pelo grande massacre de cristãos no século XIX na Síria, deixam para sempre a terra natal e metidos em navios ousam uma travessia de quarenta dias (número profético, aliás...) rumo às paragens tropicais jamais imaginadas e que se transformarão em berço de uma nova geração.

O cineasta e ator libanês Mounir Maasri foi o convidado do Grupo de Estudos Literários Magrebinos Francófonos. Tive o prazer de recebê-lo e entrevistá-lo nos estúdios da UnBTV, no programa Lanterninha. Mounir é o protagonista do filme A última estação. Este filme que abriu o Festival de Cinema de Brasília de 2012 é a primeira co-produção entre o Brasil e o Líbano. Filmado nos dois países o filme relata a saga de um jovem libanês que desembarca no Brasil  em busca de fortuna e prosperidade. Os caminhos da vida o levam a direções diferentes e o eldorado se revela um mito inacessível. Interpretado por Mounir Maasri, Tarik encarna o árabe aventureiro, coração cheio de ilusão, coragem e de promessas. Principalmente o filme quer revelar o mito do eldorado que se desfaz no quotidiano de lutas de uma realidade pungente e simplesmente normal.

Convidamos nossos leitores a acompanharem a entrevista nos dois blocos seguintes. Bom proveito!!










segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

L'inattendu dans la création littéraire et artistique, à la lumière du "Printemps arabe".

L’inattendu dans la création littéraire et artistique, à la lumière du  "Printemps arabe ».

O inesperado na criação literária e artística, à luz da "Primavera árabe".


A Universidade Lumière/Lyon (França) realizará nos dias 24 e 25 de outubro de 2013 o Colóquio "O inesperado na criação literária e artística, à luz da primavera árabe". Segue o texto com detalhes do evento e o link para aqueles desejosos de mais informações.
Coordenado pelo Professor Charles Bonn, o evento é digno da modernidade dos acontecimentos árabes dos últimos tempos. O site LIMAG, tradicional e completíssimo é uma fonte maravilhosa de informações sobre os mundos magrebinos.
Visite-o e cultive-se em http://www.limag.refer.org/ 


L’Université Lumière/Lyon-2 Nous avons tous été surpris par ce qu’il est de plus en plus convenu d’appeler le « Printemps arabe », lequel a pris naissance l’hiver 2010-2011 en Tunisie, pour se prolonger en Egypte et dans de nombreux autres pays. Quels que soient les développements politiques de ces révolutions, elles bouleversent profondément notre regard sur le monde et nos systèmes d’explication de ce dernier, déstabilisant ainsi l’assurance des discours les plus évidents, tout comme leurs formes. Et si les cohérences idéologiques sont ainsi mises à mal, on attend de la parole littéraire l’invention de nouveaux modes du dire : non pas tant, tout de suite, ces réponses qui échappent aux idéologies, que le jaillissement de modalités langagières nouvelles. Car si, comme le roi soudain nu, les idéologies révèlent maintenant leur impuissance à rendre compte de ce qui se passe, la littérature quant à elle ne se contente plus de modèles génériques éprouvés. La littérature maghrébine pratique depuis longtemps (souvenons-nous de Kateb Yacine, parmi d’autres) cette subversion généralisée des genres, subversion aussi de ce qui les distingue les uns des autres, comme de ce qui distingue le « littéraire » du « non-littéraire ». Et s’interroge avec Mohammed Dib sur les pouvoirs du langage face aux défis d’un réel qui toujours lui échappe. Et ces dernières années ont vu se développer aussi des courants d’expression culturelle collective nouveaux, comme la « Nayda » au Maroc et son renouvellement musical, chorégraphique ou théâtral. Enfin, même s’ils ne sont certes pas nouveaux dans cet espace comme ailleurs, le « Printemps arabe » a permis le surgissement de modes d’expression inattendus comme les blogs ou les graffitis. 

Leia mais em http://www.limag.refer.org/new/calmanif.php?action=list&notitle=1

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Novíssima geração de escritores magrebinos.

                 Nestes tempos de promessa de fim de mundo, há quem, antes de entrar em um confortável e fofo bunker para ali aguardar o apocalipse roendo as unhas, considere também o fim da literatura marroquina de expressão francesa. Alguns, mais pessimistas ainda trombeteiam o fim da literatura árabe de expressão francesa, cujos ícones estão envelhecendo, muitos já se foram, e o mundo pós colonial, que levantou uma geração de poetas e romancistas espetaculares, hoje dorme cansado de guerra, os pés sobre os almofadões da memória e galões no peito meio foscos de tanto neles bater a mão que agora pende. Em seu lugar surge o contexto estupendo de uma certa primavera árabe, iniciada por revoltas ancestrais contra modelos já mais de uma vez abatidos, mas que ressuscitaram como zumbis na pele de ditadores cafonas, cabelos e bigodes nigérrimos banhados em henée e despoticamente ignorantes. Uma primavera árabe em desencanto, até que a Alcaida destrone Bachar el Assad. Só não seria pior se esta mesma primavera não tivesse sido suscitada por jovens. Munidos de suas câmeras e seus celulares, entusiasmaram o mundo, para em seguida se desencantarem com o ranço ditatorial que teima em ressurgir como praga.
Pois bem, para nos surpreender, para nos acordar da tarde modorrenta em que os ícones tomam chá com biscoitinhos e provar que há uma geração a caminho dentre os grandes nomes da literatura marroquina, surge o romance "Aïcha". 
        Vem de Agdez, Marrocos. 
    É escritos por jovens. Um romance escrito em conjunto por 19 jovens estudantes secundários marroquinos.
      Já consigo escutar a velha guarda  franzir o sobrolho, torcer o nariz onde cavalga um pincenez e dizer com os botões do pijama: alunos? Obra coletiva?  As vezes muxoxos são audíveis, como paredes tem ouvidos e como livros se escrevem diferentemente hoje. 
    Deixemos para lá os saudosistas que dormem abraçados ao passado e vejamos de perto esta maravilhosa ousadia destes jovens marroquinos.
      Dirigidos por um ousado professor que se denomina un Esprit libre, Aïcha é um romance escrito pelos alunos do liceu de Zagora (Liceu Ibn Sina, Mazguita, Agdez, no Marrocos) Trata-se de uma produção que surgiu de uma experiência no âmbito de um atelier d'écriture. Lahcen reunia os alunos e nessas reuniões era preparado o romance. O objetivo do professor era permitir que os alunos se expressassem, que falassem de si, ..."Ils sont pauvres, mais leur imagination est riche. Ils sont petits mais leur passion est grande".   


O livro relata as aventuras e desaventuras de uma jovem marroquina, do meio rural, pobre oprimida, solitária e atarefada. O grupo coloca ênfase sobre a condição da mulher bérbere marroquina das regiões do sul. Uma situação difícil: sociedade ultra fechada, casamentos precoces, ausência de liberdade, etc. Aicha e seu perfil iluminam este obscuro sítio marroquino, Agdez, onde as  tradições e o patrimônio deixam pouca brecha ao moderno. Ela vive sob o jugo da madrasta, sobrecarregada de tarefas e com pouco tempo para os estudos. Uma gata borralheira bérbere, sem dúvida, reflexos de Cendrillon que estão por todo lado neste mundo, ainda que pensemos o contrário. 


Agdez , Marrocos. Foto de Lahcen.


A experiência do professor e seus alunos em criar um romance coletivo e publicá-lo é no mínimo surpreendente. A forma coletiva do romance é emprestada do moderno WIKI e tem  um mérito imenso de unir imaginários na costura de um argumento literário. Não havendo nada de novo sob o sol, e considerando que Cinderelas são antiquíssimas, resta àqueles tocados pela vontade de criar, fazê-lo com novas tecnologias da informação e utilizar também a nova modalidade de publicação que a editora propõe, que so peca no alto preço do livro. E este pequeno livro é um exemplo extraordinário. Também o é o fato de ser escrito em francês, não em árabe, no Marrocos profundo, Isso prova que o idioma permanece neste país como herança do protetorado, como um bem cultural inalienável e que é empregado pela novíssima geração de lycéens
Portanto, longa vida aos romances marroquinos de expressão francesa, sejam eles escritos por quem for. Parabéns a Lahcen, que além de excelente professor é um grande fotógrafo, apaixonado pela sua região, como podemos ver.



Excellent interview avec B.  Lahcen : http://www.almaouja.com/sur-la-vague/initiatives/418-aicha-le-temoignage-collectif-d-un-groupe-de-lyceens-d-agdez