Estimados leitores, saudações!
A divulgação e reflexão sobre literatura é, acima de tudo, um prazer, e assim combina, como quero e acredito, com o dizer de Gustave Lanson, "A literatura está destinada a nos legar um prazer, mas um prazer intelectual, de vez que está ligada ao engenho de nossas faculdades intelectuais, faculdades estas que, a seu contato saem fortificadas, leves, enriquecidas."
Estes últimos anos foram de intensa atividade de pesquisa e o Blog Literatura Magrebina Francófona, meu canal preferido, meu tipo inesquecível!
Concebido e inteiramente montado por mim, ele tem trazido reflexões importantes sobre a literatura árabe de expressão francesa: literatura dos árabes falantes de francês.
Mão de Fátima. Amuleto. |
Deste lado do Atlântico, contudo, o mundo magrebino pouco ressoa além das páginas turísticas: são as praias de Agadir, os crepúsculos de Marraqueche, os souvenis de Casablanca, a medina de Argel, branca e suave.
Mas o Magreb literário é outro. Não menos belo, tampouco, simples. O exotismo fragmenta-se em uma verdade que a palavra transporta dos velhos pátios mouriscos para o interior das páginas da literatura magrebina. Nelas entramos, com pudica reserva dos que atravessam os portais das primeiras páginas, como o visitante que perpassa os portões das casas magrebinas, para boqueaberto admirar o mundo colorido, refrescante e aprazível das moradas marroquinas, suas fontes, seus relógios solares, seus brocados e cetins internos.
Mas que não se iluda o leitor. Nada é dado de graça. A casa é um arquétipo astuto e misterioso. É lar, mas é também porões e sótãos. É morada, mas é também cozinha angustiosa, quartos solitários, esquecidos, trancados para sempre, chaves ocultas, cadeados infames, clarabóias especulares e infinitas. A casa-literatura magrebina é austera morada de fé e pecado, de mulheres e homens perpassados por paixão, êxtase, mas também culpa, é terraço aberto ao céu e ao raio, é belvedere onde se ama e se chora, reservando para o final a contemplação do destino e do horizonte derradeiro. Cabe ao leitor descobrir a chave, desvelar passo a passo a casa, fôlego contido, respirar aliviado porta a porta e, temeroso com os rangidos e tremores, finalmente entrar.
Cabe ao leitor deixar passar os ventos da memória, da erudição, da curiosidade.
Já ao autor cabem as armadilhas, as tocaias, os degraus traiçoeiros, os escuros indecentes, a transparência vítrea das verdades da fé, do amor e do ludismo, ou da escravidão.
Essa é a literatura árabe magrebina com a qual tenho lidado.
Espero que esteja sempre por aqui, caro leitor, a descobrir nos nomes ofertados e a devotar à descoberta dos textos um olhar no grau daquele lançado ao objeto de amor que temos e que, ora nos escapa, ora nos fastia, porque é etéreo, efêmero, infinitamente constante e inconstante, impermanente e eterno, ou seja, plenamente literário.
Meu abraço agradecido pela sua visita que compôs vinte mil olhares.
Cláudia Falluh Balduino Ferreira
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