Nestes tempos de renovação da Igreja Católica, em que o novo Papa Francisco quer intensificar as relações com o islã e como Pontífice, criar novas pontes entre os credos e culturas, podemos perguntar: por onde andariam os escritores árabes cristãos? E perguntamos por várias razões : tanto pelo surgimento do novo Papa, quanto pela evidência de que a espiritualidade ocidental ganhou um novo alento neste último mês, porque os conflitos no Oriente Médio têm resumido tragicamente as comunidades cristãs que ali vivem desde a passagem do Cristo e também porque o Grupo de Estudos Literários Magrebinos desenvolve uma linha de pesquisa sobre a Literatura e o sagrado. Portanto, a pergunta surge oportuna e coroada pelos propósitos "pascais" deste momento de revivescência do catolicismo e as ilimitadas expressões espirituais que certamente acontecerão.
JEAN AMROUCHE, uma estrela secretíssima.
No Magreb de forma geral, a religião muçulmana é seguida pela grande maioria dos escritores, ainda que com ela tenham embates e refutações furiosas, o que gerou a grande onda de escritores iconoclastas argelinos da segunda metade do século XX. Mas no seio deles ergueu-se uma voz altiva, a voz do grande pioneiro da literatura argelina Jean Amrouche, de família eminentemente católica. Da poesia de Amrouche surge um misticismo profundo revelado pelas imagens de fundo cristão como o Enigma, o mistério do Grande Amor, muitas delas reveladas no livro Etoile secrète, por si uma referência da Natividade anunciada e guiada por epifanias da luz, como a da estrela de Natal. Estes versos são intensamente místicos:
"Voici que j'ai touché le fond, la dernière porte.
Les lourdes ténèbres, à grand'peine traversées, ouvertes, me livrant à la lumière nouvelle.
Il fait bon ici ».
ou:
"Ma jeunesse éclatera sur le monde des ombres
Et tous les coeurs éteints
Ranimés par mon cri
Sous la violence d'un amour de feu
S'ouvriront au soleil
Et par la Terre humaine, à flots
Roulera
le sang vermeil du Grand Amour"
Jean Amrouche e sua família, sobretudo a irmã Taos Amrouche frequentaram a intelectualidade argelina onde foram recebidos e atuaram com grande exuberância e fraternidade apesar de serem cristãos.
O EMIR ABDELKADER: um paradoxal defensor e protetor dos cristãos em Damasco.
Porém é sabido que o grande massacre dos cristãos em 1867 na Síria gerou uma diáspora profunda e uma chaga ainda fresca, conforme o tom a ela dirigido, entre os povos cristãos do Oriente Médio. Nesta época estava na Síria, em exílio, o Emir Abelkader que reagiu bravamente contra os ataques muçulmanos aos cristãos, os acolheu e com, exito evitou um massacre ainda mais sangrento do que o que se anunciava. Abdelkader era homem de formação erudita, um fin lettré, e além do grande líder que foi, era também escritor, poeta, filósofo e teólogo sufi. Abdelkader difere profundamente das descrições que dele faz o escritor francês Victor Hugo, o qual, imerso no território do ego que lhe cercava, escreve poemas em que a figura do Emir argelino contempla os céus sentado sobre crânios dos invasores franceses derrotados na batalha: qual um espelho circense surge a poesia de Hugo. Ora, é neste momento em que percebemos a grande contradição: exilado pelos franceses em Damasco, o Emir faz prova de sua personalidade magnânima e generosa ao defender os cristãos.
E NO BRASIL?
Cristãos ou não, aqui chegaram e produziram, são lidos, cultivados e conseguem aplacar a sede de leitores especialíssimos quando mesclam a memória de mundos exóticos à matéria brasileira pacificadora e aconchegante de imaginários em furiosa busca pelo novo, porém amantes da terra e suas benesses.
No Magreb de forma geral, a religião muçulmana é seguida pela grande maioria dos escritores, ainda que com ela tenham embates e refutações furiosas, o que gerou a grande onda de escritores iconoclastas argelinos da segunda metade do século XX. Mas no seio deles ergueu-se uma voz altiva, a voz do grande pioneiro da literatura argelina Jean Amrouche, de família eminentemente católica. Da poesia de Amrouche surge um misticismo profundo revelado pelas imagens de fundo cristão como o Enigma, o mistério do Grande Amor, muitas delas reveladas no livro Etoile secrète, por si uma referência da Natividade anunciada e guiada por epifanias da luz, como a da estrela de Natal. Estes versos são intensamente místicos:
"Voici que j'ai touché le fond, la dernière porte.
Les lourdes ténèbres, à grand'peine traversées, ouvertes, me livrant à la lumière nouvelle.
Il fait bon ici ».
ou:
"Ma jeunesse éclatera sur le monde des ombres
Et tous les coeurs éteints
Ranimés par mon cri
Sous la violence d'un amour de feu
S'ouvriront au soleil
Et par la Terre humaine, à flots
Roulera
le sang vermeil du Grand Amour"
Jean Amrouche e sua família, sobretudo a irmã Taos Amrouche frequentaram a intelectualidade argelina onde foram recebidos e atuaram com grande exuberância e fraternidade apesar de serem cristãos.
O EMIR ABDELKADER: um paradoxal defensor e protetor dos cristãos em Damasco.
Porém é sabido que o grande massacre dos cristãos em 1867 na Síria gerou uma diáspora profunda e uma chaga ainda fresca, conforme o tom a ela dirigido, entre os povos cristãos do Oriente Médio. Nesta época estava na Síria, em exílio, o Emir Abelkader que reagiu bravamente contra os ataques muçulmanos aos cristãos, os acolheu e com, exito evitou um massacre ainda mais sangrento do que o que se anunciava. Abdelkader era homem de formação erudita, um fin lettré, e além do grande líder que foi, era também escritor, poeta, filósofo e teólogo sufi. Abdelkader difere profundamente das descrições que dele faz o escritor francês Victor Hugo, o qual, imerso no território do ego que lhe cercava, escreve poemas em que a figura do Emir argelino contempla os céus sentado sobre crânios dos invasores franceses derrotados na batalha: qual um espelho circense surge a poesia de Hugo. Ora, é neste momento em que percebemos a grande contradição: exilado pelos franceses em Damasco, o Emir faz prova de sua personalidade magnânima e generosa ao defender os cristãos.
KHALIL GIBRAN, meu "tipo inesquecível".
Passada esta época, os árabes cristãos continuaram em diáspora rumo sobretudo à América, culminando na grande imigração do princípio do século XX. A literatura acompanhou estes homens, ou estes homens levaram para o estrangeiro o gênio. Assim a diáspora literária árabe cristã assentada na América do Sul e do norte, criou, para dar dinâmica à língua e a criação nas línguas que assume, associações literárias que se transformaram em verdadeiras escolas ou correntes literárias modernas. A "Ligue Plumière" (Arrabita Al Kalamiya) fundada em 1920 tinha como presidente Khalil Gibran, cristão maronita, rodeado pelos maiores escritores árabes da época como Mikhail Nouaymeh, Elia Abou Madhi, Nacib Aridha, Rachid Ayyoub, Abdelmassih, Haddad entre outros, ou a Association "Apollo e também o "Grupo de Andalusia" (al-ousba al-Andalousia) criado por um grupo de escritores como Michel Maalouf, Fawzi Maalouf, Rachid Salin Kouri, Elias Ferhat, etc.
Histoire de Barlaan et Joasaph ( 1778, Egito, 36 iluminuras legendadas. Livro completoem: http://expositions.bnf.fr/islam/gallica/index.htm) |
http://www.medmem.eu/fr/notice/INA00341
Veja neste vídeo o trabalho do Centro de Documentação e de Pesquisas Arabes e Cristãs, CEDRAC, com sede em Beirute, no Líbano, cuja missão consiste em procurar os manuscritos antigos de escritores árabes cristãos, publicá-los e mostrar a influência exercida por estes autores sobre a civilização islâmica.
Milton Hatoum |
Já no Brasil, os árabes cristãos fizeram frutificar as mudas literárias trazidas do oriente. Como adoro esta imagem... Nomes como os de Raduan Nassar, Milton Hatoum, Leon Eliachar, Jorge Medauar, Jorge Tufik, Jorge Tanure, Salim Miguel, João Batista Sayeg são conhecidos do público brasileiros.
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